A felicidade está a ganhar cada vez mais importância nos debates sobre
medidas de bem-estar pelo mundo.
Um primeiro ponto importante é que existem diferentes conceitos de felicidade.
Muitos estudiosos têm procurado diferenciar pelo menos dois aspetos. Um deles é
a alegria com que uma pessoa vive no seu dia-a-dia, ou seja, os seus “momentos
felizes”, em contraposição aos momentos de stress, raiva e tristeza. Outro
conceito de felicidade é o de “satisfação com a vida”, que reflete mais a
avaliação da pessoa com relação à sua vida como um todo, com o que ela
conseguiu atingir até aquele momento.
Mas,
afinal, o dinheiro compra que tipo de felicidade?
Um estudo recente tentou separar os efeitos dos rendimentos pessoais nos
diferentes aspetos da felicidade. A partir de pesquisas com 450 mil residentes
nos EUA os investigadores detetaram vários resultados interessantes. Em
particular, pessoas com rendimentos mais baixos são mais infelizes em todos os
sentidos, tanto em termos de situações de stress, preocupação e infelicidade no
dia a dia, como em termos de satisfação com a vida. Entretanto, aumentos proporcionais
do rendimento familiar a partir de US$ 75 mil anuais aumentam a satisfação com
a vida, mas não alteram os momentos felizes (ou bem-estar emocional) dos
cidadãos americanos.
Qual a explicação para esse resultado? Pode ser que acréscimos de rendimentos
acima de determinado nível não aumentem a probabilidade das pessoas desfrutarem
dos momentos que trazem mais prazer, como estar com os amigos e desfrutar do
lazer. Pode ser também que os aumentos de rendimentos, apesar de provocarem o
aumento de satisfação pessoal associada ao status, tragam consigo situações de
stress e incapacidade de saborear os pequenos prazeres da vida. Desse modo, é
importante separar o que as pessoas pensam a respeito de sua própria vida do
quanto elas realmente aproveitam os momentos felizes.
E em relação aos outros
determinantes da felicidade?
Um resultado que sempre emerge dos estudos sobre
felicidade é a relação em formato de U entre idade e felicidade. Ou seja, a
felicidade tende a diminuir à medida que ficamos mais velhos, até alcançarmos
os 50 anos de idade e depois aumenta novamente. Estudos recentes usando o
consumo de antidepressivos (em vez de medidas subjetivas de felicidade)
confirmaram essa relação não linear entre idade e felicidade. Por exemplo, os
dados mostram que 1 em cada 13 europeus usaram antidepressivos em 2010 (com destaque para os portugueses) e
que as pessoas na meia-idade têm uma probabilidade duas vezes maior de tomarem
esses remédios do que as com 26 ou 65 anos de idade com as mesmas
características.
Outra questão importante é a
relação entre estado civil e felicidade. As pesquisas mostram claramente que as pessoas
casadas têm mais momentos felizes e são mais satisfeitas com a vida do que as
solteiras, viúvas e divorciadas (mas, a presença de filhos em casa tende a
aumentar os momentos de stress e preocupação). Mas, será que vale a pena manter
um casamento infeliz? Claro que não. Estudos que seguem as mesmas pessoas ao
longo do tempo mostram que a dissolução do casamento, apesar de traumática no
período de transição, reduz significativamente os níveis de stress dois anos
após a separação, com relação à situação inicial (que era pior que a média).
Além disso, há evidências de que os filhos não sofrem muito com a separação dos
pais.
Por fim, os fumadores e as pessoas que vivem sozinhas são as que têm menos
momentos felizes, sofrem mais stress e estão menos satisfeitas com a vida. Em
suma, se a pessoa tem 50 anos de idade, mora sozinha, fuma, e tem um rendimento
familiar baixo, a probabilidade de que ela tenha uma vida feliz é bastante
baixa. Mas, a boa notícia é que as coisas melhoram um pouco aos 60 anos.
Fonte: Valor Económico, (adaptado)15/03/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário