segunda-feira, 20 de maio de 2013

Queimar as pestanas a estudar, afinal, já não compensa...

Lord Winston revelou que não gosta de contratar pessoas que, na universidade, tenham tido a classificação de "Muito Bom/Excelente". 



Diz que prefere escolher pessoas que se ficaram pelo "Bom", isto é, que não passaram o tempo todo a marrar. Uma pessoa com horizontes mais amplos será melhor cientista do que um marrão sem mundo que largou a biblioteca.
Li isto e rejubilei. Como faço parte do grupo preferido de Lord Winston, digo-vos que as suas palavras são de grande sabedoria. É animador... mas será verdade? Para tirar isso a limpo, enviei um ‘mail' descarado a 40 colegas do FT que ocupam cargos sénior a pedir que partilhassem a sua nota final na universidade. Os resultados não foram bem os que eu esperava.
 
O FT está cheio de gente que Lord Winston jamais recrutaria: perto de metade dos inquiridos tiveram "Muito Bom/Excelente". Não é uma propriamente uma surpresa. O que é surpreendente é quem tem essa classificação e quem não tem. Esqueçam que tive mais que tempo, décadas para ser sincera, para avaliar a inteligência dos meus colegas - as previsões foram um fiasco. Só acertei nos casos mais óbvios.
Esta experiência mostra que aqueles que tiveram a melhor classificação não são, em média, melhores ou piores jornalistas que os que tiveram "Bom". Diria que há uma ligeira tendência - embora possa estar a puxar a brasa à minha sardinha - para os que tiveram "Bom" se destacarem pela originalidade e sentido de humor, enquanto os Muito "Bom/Excelente" tendem a ser mais consistentes e rigorosos - mas só muito ligeiramente.
Mesmo não sendo um cientista famoso, posso dizer que é necessário reunir três coisas para ter uma boa nota final: trabalho árduo, inteligência e, num segundo plano, sorte. Resumindo, a brilhante nota final pode ser o resultado de uma de três hipóteses: marranço, cabeça ou acaso - e todas elas são diferentes.

O mesmo se aplica aos outros. No meu caso, obtive um vergonhoso (suado e marrado) Bom, passei horas e horas na biblioteca, um pouco menos no ‘pub' e o resto do tempo fiquei enfiada no quarto. Não tinha outros interesses nem horizontes amplos, apesar de no primeiro ano ter dado aulas de tricô a não licenciados. Assim sendo, represento o pior de todos os mundos para Lord Winston: faço parte do grupo de marrões com vistas curtas que, ainda por cima, não conseguiu acabar o curso com "Muito Bom". E depois? Tornei-me uma excelente funcionária.

O mais interessante nas respostas não foi a classificação que obtiveram, mas a forma como responderam à minha pergunta. A primeira relação que pude estabelecer foi entre a média final e a celeridade na resposta. Quanto melhor a nota, mais rápida a resposta. Isto não se explica apenas pelo facto de sermos jornalistas inseguros. Esta obsessão com a nota de fim de curso é uma falha de carácter nacional, particularmente acentuada nas pessoas que frequentaram Oxford e Cambridge. Há uns dias entrevistei o Arcebispo de Canterbury e também ele sentiu a necessidade de me dizer que pouco fizera para merecer a nota com que terminou Cambridge, o tal famigerado "Bom".

Percebo agora o absurdo que foi perder tempo a discutir isto. Desde que concluiu os seus estudos, o Arcebispo tem dado provas da sua inteligência diariamente. O mesmo posso dizer de mim e de todos os outros. Apesar disso, continuamos amarrados a uma semana de exames que fizemos há dez, 20, 30 ou 40 anos. É de loucos. Mas posso imaginar porquê: a) para a maioria das pessoas, a nota final de curso foi a última vez que tiveram uma classificação objectiva; b) ninguém lhes pode tirar isso; e c) o sistema de classificação das universidades britânicas é estúpido.

Perante isto, os empregadores terão de escolher entre aqueles que continuam a remoer sobre a nota final de curso e os que estão convencidos de que receberam um atestado de inteligência vitalício por terem tido "Excelente". Uma amiga que gosta de recrutar estagiários diz que evita os que têm grandes notas: "A opinião que têm acerca da sua inteligência provavelmente é muito diferente da minha". Apesar disso, não se põe a inventar regras rígidas sobre o assunto. Encontrar a pessoa certa é de tal forma difícil que a única coisa sensata que podemos fazer é não ter regras. Não contratar pessoas com excelentes notas é quase tão absurdo como não contratar homens com bigode.
Fonte: Económico

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